domingo, 30 de janeiro de 2011

Vicio da regressão


Uma mesa de chá flutuante. Duas cadeiras na mesma altura. Biscoitos, torradas, cream cheese, aveia, mel...

Sentadas, eu e minha consciência conversávamos no fim da noite. Estávamos ambas, abismadas sobre falta da malicia costumeira. Uma espécie de pureza nos rondava e por isso era como se a perspectiva de vida tivesse regredido uns quinze anos.

O olhar sexual estava desinteressado, a paciência e esperança restauradas, a iniciativa era amistosa e compreensiva, o desejo era involuntariamente puro. Era como se eu tivesse agindo e tratando de todos os meus assuntos, com a opção de resolvê-los com a mesma calma de quando tinha quatro anos: querendo ser amiga, demonstrando carinho, satisfação, sem grandes anseios sobre as pessoas, com um aspecto brincalhão, compartilhando informações coloridas, escutando o som e o timbre da voz, dizendo sem jeito, um pouco canastrona, desavergonhada, sem maldade, indiscutivelmente infantil maneira de se comportar.

Acho que tá ai um segredo pra se sentir bem, pra tirar a culpa da desconfiança e ferocidade do mundo adulto. Uma semana sem esse comportamento impessoal, sem essas cerimônias, sem esses julgamentos, sem a malevolência. Digo-lhes durante esse chá sonhado, flutuante na madrugada, que tem me feito muito bem esse vicio da regressão. Eu tentei esse mundo adulto de mais, e só vi dor e sofrimento. Não estou ignorando o mundo real, estou mudando a maneira de vivê-lo. Afinal se gentileza gera gentileza, mudança gera mudança. Então mudando e melhorando, simplificando o eu, simplificamos o mundo. É uma experiência com validade reconhecida.

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