domingo, 29 de novembro de 2009

O vício do "pra sempre"

Todos acreditam no “para sempre”. Em algum momento da vida, mesmo a pessoa mais cética acreditou que alguma coisa duraria eternidade a fora.

Conversando com um amigo numa mesa de bar, ele me contava sobre a namorada. O fio da meada era que ele traia, desdenhava, portava-se indiferente com a tal, mas ela persistia no namoro. Eu ri, disfarçando algum estranhamento com a situação. Tentei ironizar, dizendo que se fosse amiga dela diria para ela se valorizar e não olhar mais na cara dele... Foi mais uma daquelas verdades que se diz em tom de brincadeira do que uma ironia em si.


Ele só queria ouvir ela terminando o namoro.Ela só queria ouvir um "eu te amo".Marina era o nome dela e Arthur era o nome dele.Ele reclamava, entre um gole e outro do seu chope gelado, que as mulheres em geral vivem com esse "pra sempre" na cabeça.Dizia ele saber o decorrer de todas as relações..."tinham inicio, meio e fim, então para que se preocupar se sabia que ia terminar".Tive raiva por ele pensar desse jeito, mas até certo ponto fazia sentido.

A questão é que o “pra sempre” existe sim. Ele ocorre a partir do momento que uma ação se inicia. A eternidade terrena é finita, mas ela acontece quando aproveitamos aquele momento especial.

Meu amigo era um tolo. Todo esse ceticismo e descaso com o amor e os relacionamentos só podiam ser mera defesa pessoal frente à menina que ele gostava. Eu não consegui entender bem o resto da situação porque me ausentei mentalmente daquela conversa. Fiquei pensando sobre o tal assunto do “pra sempre”.Pelo que entendi depois, ele estava querendo ficar com outra menina, contudo tinha medo da reação da Marina caso ele terminasse o namoro. Acho que ele não queria ficar mal com ela (o que acabava sendo uma contradição perto do jeito que ele estava tratando a garota).

Saímos para uma caminhada. O calor do veranico de primavera nos englobava e nem eu nem ele conseguíamos pensar direito. Lembro-me de tê-lo escutado por muito tempo. Ele me parecia agora um pouco idiota ao dizer barbaridades machistas sobre tudo aquilo. Meus conselhos de nada serviriam. Ainda assim continuei fisicamente ao lado dele.

Contudo, ausentei-me novamente em pensamento, para lembrar como achava que minha infância ia durar pra sempre, como achava que meu doce preferido ia continuar na geladeira, como achava que meus pais iam sempre me socorrer, que eu ia sempre ter uma determinada opinião sobre um assunto e de como eu pensava que os momentos eram bastante fixos. Tudo aquilo era rotina. No entanto, o “pra sempre” era muito efêmero, ele passava juntamente com a vida. Passo a passo. Etapa por etapa. Ele sempre mudava. E naquele momento eu acreditei estar vivendo um desses momentos eternos de elucidação.

Até que Arthur me chamou novamente a realidade. Estávamos perto do ponto de ônibus. Seguiríamos em direções opostas. Então como se não suportasse mais guardar para si aquela noticia, ele me revelou que eu era a outra garota que ele se interessava. Foi um momento em que eu fiquei eternamente sem graça. Houve um silencio daqueles constrangedores. E para sempre ele se lembraria da minha honestidade ao dizer que éramos apenas amigos. Vinguei os maus tratos que ele conferia a Marina. Ele levou um susto porque pela primeira vez uma garota não se rendeu aos seus encantos. Apesar de meu amigo, ele não passava de um falso incrédulo porque o pra sempre estava ali.... e ele percebeu.

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