sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Viagem de trem

Andar de trem onde eu moro é muito peculiar. Um dia eu estava indo pra central e uma senhora sentou-se ao meu lado. Usava uma blusa verde e saia com estampa florida e de comprimento até as canelas, na cabeça um chapéu de palha trançada, bem arredondada e artesanalmente bonita, com uma flor esquisita em cima. Ela começou a falar como se já me conhecesse e elogiou o recente cuidado com a linha na qual viajávamos: colocaram guardas e cobradores, assim não deixavam mais os vândalos nem os ‘moleques desocupados’ subirem e fazerem ‘arruaça’.

Achei curioso o jeito em que as pessoas se sentem intimas e puxam conversa. E pasmem: eu sempre converso com as velhinhas. Fico assentindo e sendo simpática.

Poucos segundos depois do comentário, a senhora dormiu. Pensei se ela seria narcoléptica. Deixei-a no seu sono e olhei a frente.Lá estava um senhor com blusa social de mangas compridas, calça social e tênis de corrida. A combinação perfeita para um homem sexagenário num calor infernal.Ao seu lado, uma senhora negra com as banhas caindo, e mais a esquerda uma jovem com roupas curtas e tão insinuantes quanto o piercing que ela usava no umbigo.

Do trem dá pra ver a pluralidade.Dá pra ver realidade.

O solavanco do trem acordou a velha, revelou o suor do velho, machucou a negra, quase derrubou a jovem, acelerou o guarda e fez uma criança catar cavaco.Chegamos a estação final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que achou?